terça-feira, 29 de julho de 2008

Pequenos gestos, grande repercussão


Hoje, nosso e-mail é entupido por correntes, orações, palavras de auto-ajuda, pedidos de colaboração para as mais diversas campanhas, além, é claro, do flagelo da internet, que são os spams, as mensagens não desejadas. Mas, de vez em quando, aparece algo interessante, bonito, emocionante, capaz de nos proporcionar alguns minutos de deleite, deixando a impressão de que, afinal, essa humanidade tem salvação. Entre crianças jogadas pela janela, mulheres assassinadas por maridos ciumentos, inocentes abatidos pela polícia, aparecem uns bobos, com umas idéias malucas, que acabam virando culto. Pela simplicidade da proposta, pela facilidade de levar essa idéia adiante, e pela felicidade que provocam.

O primeiro que me chamou a atenção foi o cara do FREE HUGS. Um maluco que se colocava em vários espaços públicos, com um cartaz oferecendo abraços de graça. Juan Mann começou a campanha em Sidney, Austrália, com o objetivo de fazer as pessoas se sentirem melhor com um ato de bondade, amizade e generosidade e incentivá-las a fazer o mesmo com as outras pessoas. As autoridades tentaram impedir, mas uma petição de dez mil assinaturas garantiu a continuidade da campanha. Um dia, Mann ofereceu um abraço a Shimom Moore, líder da banda Sick Puppies, que decidiu gravar a campanha e colocar no Youtube como videoclipe da música “All the Same”. O resto é história, até hoje o vídeo é um dos mais acessados do site. Se não conhece ainda, confere em http://br.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4.
Mais recentemente, conheci Matt Harding, um designer de games que teve a idéia genial de girar o mundo dançando – e gravar isso. Ele está em sua segunda volta ao mundo e os vídeos proliferam no YouTube. Matt aparece dançando sozinho ou acompanhado diante de vários cartões postais de vários locais do mundo, de Paris a Papua Nova Guiné, passando por Brasil, Palestina, Israel, Peru, Estados Unidos, Austrália, Índia – o mundo inteiro. A idéia é simples: dançar pelo prazer de dançar e incentivar as pessoas a fazerem o mesmo. Só para começar, acesse http://www.wherethehellismatt.com/videos.shtml

E não se assuste se chorar ao ver os abraços do Mann ou a dança do Matt.
Vai ser de pura felicidade.
E, desde já, manifesto minha adesão à campanha do amigo Tom: "Eu quero dançar com o Matt"





quarta-feira, 9 de julho de 2008

O João de Barro sabe





Construiu a casa dele à beira de um riacho, num lugar tranquilo, de boa sombra, onde os raios do sol brincam no final do dia.

Só faltou o gnomo sentado em cima



Cogumelo fotografado em Viamão, RS.

O que guardam esses tipos sinistros


O QUE GUARDAM ESSES TIPOS SINISTROS?
A edificação já era estranhíssima: uma caixa de alvenaria, enorme, quase sem aberturas, no meio da estrada para Taquara. Cada vez que passava por ali, ficava me perguntando o que seria fabricado ali. Nunca vi funcionários saindo em bando, como é comum naquela região de muitas fábricas. E, recentemente, o local foi cercado, plantaram centenas de cactus na entrada e colocaram duas figuras muito sinistras, diabólicas até. E continuo sem saber afinal o que se fabrica lá dentro, o que acontece lá dentro, o que essa dupla está guardando.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Fragmentos do Real I

É uma sexta-feira de verão, fim de tarde. O trânsito adivinha o fim de semana e a debandada para o litoral. Crianças saem da escola, cães passeiam seus donos, as cervejas já estão nas mesas, o sol vai demorar ainda para se por, o supermercado está cheio. Numa transversal de um bairro qualquer, um homem está agarrado à grade de uma casa, com os olhos esbugalhados, suando muito. E gritando. Gritando como num filme de terror, aquele grito de pavor, de quem se vê diante do monstro, da morte, do fim trágico. Beira os trinta anos, um pouco acima do peso, bem barbeado, cabelo bem cortado. Calças boas, sapatos de couro, camisa azul. E grita. Desesperado. Um pequeno grupo começa a se formar, enquanto ele grita. E apenas duas expressões saem daquela boca de dentes muito brancos, bem cuidados: minha mulher, minha filha, minha mulher, minha filha. Como um mantra. Nos olhares, a pergunta: porque um homem de trinta anos, bem vestido, bem calçado, grita em pânico, agarrado a uma grade, no meio de uma calçada, em plena sexta-feira de verão? Duas moças se aproximam e mostram: na beira da calçada, um copo com água e uma seringa recém-usada. Da janela do apartamento, elas viram quando ele chegou, sentou na sarjeta, tirou um saquinho com um pó branco do bolso, misturou na água e se injetou. Cocaína. Fitando o nada, ele grita, grita, grita: minha mulher, minha filha, minha mulher, minha filha. Chega a policia, chega a Samu. Outra moça consegue fazer com que ele se acalme e solte a grade. Um linguicinha cheira o pé dele. Ele vai de mãos dadas com a moça, sobe na ambulância, que liga a sirene e some. A rua retoma seu movimento normal, as buzinas tentam acelerar o trânsito, o sol finalmente se põe.