Meninos, eu ouvi

Esse homem sorridente aí ao lado, com seus belos dreadlocks, possui uma orquestra dentro dele. Usando magistralmente o instrumento musical mais antigo da humanidade, ele extrai de seu aparelho fonador sons inusitados, surpreendentes, belíssimos. Sozinho no palco, com apenas uma cadeira, um microfone e uma garrafinha de água, Bobbie Mc Ferrin encheu de sonoridades o Teatro do Bourbon esta noite. Sempre com arranjos sofisticados, ele vai de Beatles a Bach, passando por Charles Chaplin - em Smile, a segunda música do show - tocante - e os blues mais "roots" de Chicago. Com graves e agudos perfeitos, McFerrin é jazzie, pop, lírico, étnico. Didático, proporcionou exercícios de canto para toda a platéia, incluindo um coro selecionado entre o público. Generoso, cantou para Fernanda Carvalho Leite dançar (lindamente), dividiu o microfone com a sempre ótima Adriana Defenti (ouçam mais essa moça) e, num dos picos do show, fez dueto com o artista de rua Zé da Folha, com direito até ao "Canto Alegretense". Simpático, divertido, "clean", de poucas palavras e muitos gestos, Bobbie McFerrin é candidato a um dos shows do ano. Sofisticado, moderno, gostoso de ouvir, cheio de imaginação, totalmente "do bem". Intimista como um recital de piano, mas com um impacto sonoro de um concerto - sinfônico ou de rock.